domingo, 28 de outubro de 2007

ORIGINE

.: inspirado pela Teoria das Cordas:.
Um som ecoou no espaço. Na turbulência do infinito ouviu-se um ruído que rompeu bruscamente a meditação profunda da consciência maior. Trancafiada na masmorra de uma supernova, iniciou-se o choro de eternas lágrimas que transitaram entre o passado e o futuro e determinaram que o presente deveria ser instável. Inquieta, a consciência maior deparou-se com um estranho e grande objeto cuja face fria emitia calafrios em ondas eletromagnéticas que exprimiam intensa dor nos detritos da mente infinita. Pela primeira vez a consciência maior teve uma dúvida. Pela primeira vez surgiu uma pergunta sem respostas. Pela primeira vez ecoou-se um som no espaço. O impossível determinado havia se rompido, como um parto antes da hora. A bolsa estourou, jorrou-se o líquen e todo o sangue tingiu o universo central. Na razão de ser, e na não necessidade de refletir, sabendo-se que todas as respostas já estavam prontas, pela primeira vez ficou confusa. A primeira dúvida. Nada mais cabia senão a dúvida.
A intensa consternação fazia-me cada vez maior. A destruição da crença do determinado. Aquilo que jamais deveria ser contestado, pela prova da ciência, pela prova da razão estava designado a uma nova experiência. E o som ecoou novamente. Não era uma valsa suave entre as estrelas, não era um concerto entre as galáxias. Era mais um grito de desespero. Teria mesmo ouvido o som? Outra dúvida prestes a surgir e que determinava que a consciência maior realmente se contradizia na sua razão de ser. E o silêncio finalmente retornou. A consciência maior acalmou-se. E por um instante, se bem que os instantes não existem no infinito existencial, ela hesitou em retornar a sua meditação profunda. E foi quando ela conflitou-se novamente. Como a consciência maior poderia meditar no ensejo de entrar em contato com o seu mais profundo intimo se ela já deveria estar em contato direto com este intimo, sendo ela a consciência maior? Incompreendeu-se, de certa forma, a sua causa de ser a consciência maior.

Talvez o som não tivesse ecoado pelo universo rumo as estrelas. Talvez apenas tivesse ecoado dentro da consciência maior, vibrando e refletindo-se pelos detritos da mente infinita. Até mesmo um conselho menor foi requisitado na masmorra da supernova. A consciência menor por não viver na constante razão maior, talvez já tivesse vivido a grande dúvida, ou as grandes dúvidas existenciais que surgiam naquele espaço-tempo. Dick, Clarke, Hawking, Newton, Einstein, eram alguns dos neurônios da consciência menor. Até mesmo Shakespeare estava presente, um neurônio mais filosófico, mais poético, mas que movia a razão de ser ou não ser da consciência menor. Suas sinapses conectavam dúvidas e incertezas. Seriam elas capazes de resolver as estranhezas da consciência maior? Estremeciam-se as fibras nervosas e vibravam-se os vulvos e vasos sanguíneos e contorciam a medula espinhal, o cordão que liga a mente menor aos seus resíduos concretos.

A consciência menor entrou em um pequeno colapso para tentar resolver as grandes dúvidas. Enquanto o colapso reestruturava o espaço-tempo e o continuum, reprimiu-se o choro das eternas lágrimas e o silêncio absoluto voltou a reinar. Um instante no espaço-tempo que indeterminadamente foi quebrado pelo tocar de um rústico instrumento de cordas. Cantaram as estranhezas de novos nascimentos. Cada corda dedilhada gerava um novo universo. Mas os acordes do instrumento de cordas e o canto eram silenciosos. Foi outra quebra no espaço-tempo que fez a consciência maior transtornar-se novamente. Teria mesmo ouvido o som?


O estranho e grande objeto se moveu. Rompeu o continuum e atravessou as fronteiras entre os universos, criando uma seqüência de notas não-harmônicas que desafinaram a melodia que era composta pelo instrumento de cordas. Um ruído nas cordas que estouraram as bolhas que flutuavam por aquele espaço-tempo, alguns dos novos nascimentos não tiveram nem a oportunidade de abrirem seus olhos. Outros porém nem chegaram a sair do grande útero. Criou-se então um descontínuum.

A consciência menor chegou a um consenso. O que se aludiu foi a possibilidade de que a consciência maior talvez não fosse aquilo tudo que ela própria regrava ser. A grande pergunta ou as grandes perguntas calavam a razão de ser. A crença suprema se rompia junto com o colapso que havia entrado a consciência menor. Porém um grande e maior colapso regrava o novo espaço-tempo. E o som que havia ouvido a consciência maior, talvez regrasse um infinito continuum das incertezas da existência do espaço-tempo. Se todas as bolhas são sopradas pela consciência maior e se todas as cordas são tocadas por ela, não seria ela o absoluto de toda gênese? No entanto a consciência menor levantou uma indagação inquietante ao refletirem de quem poderia ser aquele som: quem gerou a consciência maior?

E no descontinuum do espaço-tempo, o estranho e grande objeto esbarrou-se com uma grande rocha e lá fincou-se. Ao redor do estranho e grande objeto uma formação em círculo se compôs. Seres primatas conturbavam-se diante daquele enorme artefato. E próximo a formação em círculos, aproximavam-se em bandos outros seres primatas. Um dos primatas da formação em círculo apenas hesitou em defender o seu bando e ergueu um grande e rígido pedaço de osso.